
Crédito foto: Julian Howard no Unsplash
Muitas pessoas confundem regras de escrita com técnicas de escrita. Eis a diferença. Regras prescrevem princípios que você deve obedecer para alcançar um objetivo. Técnicas sugerem métodos que podem ajudar você a alcançar um objetivo.
Uma regra dita “Histórias precisam de uma trama eletrizante para prender a atenção do leitor”, enquanto uma técnica sugere “Como estruturar o enredo para que a trama da história desperte a curiosidade do leitor”. É uma diferença sutil, mas muito importante. Regras determinam como você deve escrever. Técnicas revelam possíveis formas de escrever para se criar uma certa experiência de leitura.
O Ficção em Tópicos está focado em compartilhar técnicas de escrita, ou seja, ferramentas que, direta ou indiretamente, ajudem você a aperfeiçoar as histórias que deseja contar.
Acredito em uma única regra para escrever bem: não seja chato.
O que eu considero chato é possivelmente diferente do que você considera chato. Ainda assim, chatice segue alguns princípios básicos.Se se esforçar para contornar esses princípios, vai começar a escrever textos mais interessantes.
O vídeo “How not to be boring” (“Como não ser chato”) da The School of Life (disponível no final do artigo) defende a ideia de que ninguém é chato por natureza mas, às vezes, parecemos chatos para outras pessoas. Isso é resultado da falta de autoconhecimento ou da falta de habilidade para expressar quem verdadeiramente somos.
Todo ser humano é interessante por natureza. A vida de cada pessoa é uma combinação original, única e complexa de experiências que ninguém jamais viveu e ninguém jamais viverá. O que faz uma pessoa parecer chata é sua incapacidade ou falta de coragem para compartilhar com sinceridade e personalidade a forma particular como ela enxerga e experimenta o mundo, o que a entusiasma, quais são suas ambições, do que tem inveja, do que se arrepende, quais são seus sonhos e seus medos.
Não é por acaso que uma conversa com uma criança de cinco anos pode ser muito mais interessante do que uma conversa com um adulto de cinquenta. A incapacidade da criança de censurar seus pensamentos e filtrar suas palavras permite que ela revele o que realmente pensa e sente. Crianças são leais ao conteúdo de suas mentes. Compartilhar o que lhes parece verdade é, para elas, instintivamente mais importante do que ser social.
A criança curiosa e interessante começa a se transformar em um adulto chato e desinteressante quando surge o desejo de ser reconhecida como “normal”. Esse desejo de pertencer e ser como todo mundo é comum e natural. Quem tem aspirações artísticas, entretanto, incluindo escritores, precisa reaprender a olhar para o mundo com essa curiosidade infantil.
Escrever bem é olhar para o ordinário de uma forma diferente, é saber interrogar suas percepções de uma forma clara e honesta. Muitas vezes, a originalidade de certas ideias está, simplesmente, na sinceridade crua e na contemplação sensível da escritora ou escritor para expressar seus pensamentos e ideias.
A combinação do olhar autêntico de uma criança com a habilidade de se expressar com beleza, precisão e clareza de um adulto é um antídoto poderoso contra chatice.
Uma pessoa interessante não é necessariamente alguém que teve experiências extravagantes. Primordialmente, é alguém que aprendeu a prestar atenção aos movimentos sutis dos seus pensamentos e emoções e, portanto, consegue transformar em histórias as fantasias vívidas, as percepções elaboradas, e as aventuras excitantes que povoam a sua mente.
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Meu nome é Fabio Seca, sou jovem escritor, estou acabando meu primeiro capitulo, e o importante é não ser chato não escrever novela e sim um romance, acredito nas oficinas com outros escritores e em ficção em tópicos. Obrigado!