
Abaixo, alguns trechos traduzidos do excelente artigo “Story 2.0: The surprising thing about the next wave of narrative”, publicado originalmente aqui, escrito por Jonathan Gottschall, autor de The Storytelling Animal: How Stories Make Us Human
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James Joyce, quase cego, sem dentes e obcecado com a sua própria fama, trabalhou heroicamente no livro “Finnicius Revém” durante 17 anos, produzindo setecentas páginas que iriam, ele dizia orgulhoso, manter os críticos literários ocupados por trezentos anos. E isso ele provavelmente conseguiu.
O livro é agora aclamado como um monumento à arte experimental, como uma das maiores novelas já escritas. Segundo Harold Bloom, crítico de Yale, “Finnicius Revém” é o único trabalho de literatura moderna cuja genialidade é comparável a Dante e Shakespeare. […]
Antes de nos entusiasmarmos em demasia com a ideia de reinventar a forma de contarmos histórias, vamos voltar a James Joyce. Há um paradoxo no livro “Finnicius Revém”. Este livro é conhecido como uma das maiores novelas que um ser humano já escreveu, e também como uma das novelas que seres humanos não aguentam ler.
Eu sou professor de literatura e nunca encontrei um só colega que conseguiu ler o livro todo, ou mesmo teve a vontade de terminar a leitura da obra. O livro “Finnicius Revém” é simplesmente admirado pela sua coragem e pela sua criatividade surpreendente e meio maluca, mas é quase completamente não lido e não amado. […]
“Finnicius Revém” falha em se conectar com os leitores não apenas devido a linguagem totalmente obscura (um crítico referiu-se à novela como um ato de “sodomia linguística”).
A novela – com a sua forma e enredo incompreensíveis, e personagens [mutantes]* – não lança sobre os leitores um feitiço extasiante. Joyce nos nega o que mais queremos numa história: a sensação de entrar nas páginas de um livro e de nos perdermos numa terra de faz de conta. […]
*O método joyceano dos fluxos de consciência, alusões literárias e livres associações oníricas foi levado até o limite em “Finnicius Revém”, que abandonou todas as convenções de construção de enredo e personagem e é escrito numa linguagem peculiar e árdua, baseada principalmente em complexos trocadilhos de múltiplos níveis. Fonte: Wikipedia
James Joyce certamente sabia contar histórias da maneira clássica (veja a sua imortal coleção de contos “Dublinenses”). Como ele escreveu para um amigo sobre “Finnicius Revém”, “eu poderia facilmente ter escrito esta história da maneira tradicional… (todo novelista conhece a receita)… , mas eu estou tentando contar esta história de uma maneira diferente”.
Joyce ficou genuinamente surpreso que tão poucas pessoas, além de alguns poucos críticos altamente sofisticados, puderam conectar-se com a sua nova maneira de contar histórias. Como H. G. Wells reclamou [para ele] em uma carta, o escritor realmente virou suas costas para o homem comum.
E você? Já experimentou escrever histórias deixando de lado a estrutura clássica? Deixe um comentário.
2 Comments
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Ainda não compreendi muito bem o que são estruturas experimentais em relação às histórias.
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Bom dia Diego,
Venho lhe desejar um feliz ano novo!
Continue com o bom trabalho!
Para mim, o melhor site com dicas pra escritores!
Abraços