
A jornalista Eliane Brum se considera uma escutadora de histórias. O processo de criação de suas reportagens envolve um esvaziamento da perspectiva a partir da qual ela vê o mundo. É assim que ela cria um espaço dentro da mente para compreender a realidade dos personagens das suas matérias.
Nessa série de seis vídeos do programa “Jogo de Ideias”, Eliane fala da sensibilidade necessária para enxergar as histórias de pessoas comuns que acontecem todos os dias, encontrar significado nos clichês da vida cotidiana, e dar outra dimensão às realidades construídas pelas mídias de massa.
Escutar a Eliane me fez pensar em como o escritor de ficção também precisa se esvaziar de sua vida e, assim, abrir espaço para os personagens que habitam seu inconsciente falarem com suas próprias vozes.
Esse processo de escuta que a jornalista enfatiza ao compartilhar a forma como constrói seu trabalho é essencial para quem quer escrever ficção. Sem essa abertura para conhecer personagens além de suas características superficiais, o escritor dificilmente conseguirá passar um senso de veracidade e honestidade em suas histórias.
“Eu vejo o trabalho de escrever, eu vejo o escritor como um escutador. No caso da reportagem, ele é um escutador de personagens externos, de personagens que estão na vida real. E quando a gente faz ficção, a gente é um escutador de personagens internos.” Eliane Brum
Assista à entrevista completa nos vídeos abaixo.
4 escritores têm algo a dizer sobre este texto
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Preciso agradecer a Eliane Brum!
Que testemunho fantástico de uma escultora de palavras!
Bem-haja!Isabel Haber
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Ela é ótima, não é Isabel?!
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sempre que crio algum personagem eu me sinto como uma mãe. É meio estranho e para alguns que não entendem até bizarro, porém eu acho maravilhoso a parte de criar e de construir um personagem que no começo é apenas algo abstrato, mas se transforma em uma criatura tão complexa.
É como dar vida ao um objeto inanimado. -
Thalita, também me fascina a ideia de criar vida com palavras, de transformar uma ideia em uma sequência de eventos que mostram um pouco do que acontece neste mundo que só existe na minha cabeça. Quem não escreve ficção provavelmente não entende porque fechou as portas da sua imaginação. Bizarro mesmo seria trancafiar os personagens que concebemos em um canto obscuro da mente e ignorar suas existências.