Preciso reescrever meu dicionário. Sei que não vai dar tempo de passar tudo a limpo ainda nessa vida, mas pelo menos as palavras que mais uso precisam ser resignificadas com urgência. Algumas frases já soam tão ocas que, quando pronunciadas, reverberam o desespero da falta de sentido.
Chegou a hora de fazer uma reengenharia de representações. Todas as palavras terão seu significado confiscado até segunda ordem. Enquanto isso, elas estão livres do compromisso com a lógica, essa bola de ferro presa na perna do pensamento que não deixa a mente voar.
Quero ver as palavras correndo soltas pelos textos, sem medo de cair no comum. Quero ver os adjetivos conhecendo seus antônimos; os verbos mudando de atitude; os pontos finais iniciando sentenças.
Meu novo dicionário vai ser uma edição revista e ampliada pelas experiências que vem me configurando como um texto cada vez mais aberto para novas interpretações.
(Diego Schutt – Outubro/2004)